UM MINI CLISTER


Havia uma reclamação a receber que não podia ser escrita, tinha que ser "oral" dita a um medico.
Foi assim o exigido. E eu fui recebe-la.
Internada há cerca de meia hora para vir ter o seu filho à maternidade, com mais tranquilidade, mais segurança, estava terrivelmente insegura, muito menos tranquila.
Há coisas que acontecem inesperadamente que mudam qualquer caso de figura. Foi o sucedido.
Não frequentou consultas pré natais porque segundo rezava tinha pouca vontade de mostrar as suas "encrencas" a desconhecidos. Bem bastava quando o "homem se servia dela" ... Era "meio cegueta"... "só acertava se via" . Já aparentava ser avó , porém nem mãe era ainda.
Era a primeira vez que se metias nestes sarilhos, não por sua vontade que reconhecia bem a "idade de ter juízo" , mas "Deus mandava... e ela ali estava para obedecer" .
Toda esta lenga-lenga e outra tanta de premeio, não era senão um prefacio condigno à reclamação que se ia seguir e que eu aceitei, pedindo desculpas em nome de todo o pessoal do serviço de urgência, no meu próprio também.
Realmente ninguém nasce ensinado. A pobre mulher, inexperiente, barafustava com razão, conta as pessoas que a receberam à entrada da maternidade por lhe terem entregue uma bisnaga branca, pequenina, para introduzir não lhe disseram aonde e que afinal era para lhe limpar o intestino, como acabara de perceber.
Voltada para mim, de pé, pernas abertas, desgrenhada, camisa de noite às riscas, toda folclórica, levantou o tom de voz e acelerada reclamou:
-"Oh senhora medica, eu vim aqui cagar algum filho?
Não vim, pois não ?
Então eu sabia lá que aquela bisnaga era para limpar o olho do cu?
Eu metia onde pensei que devia.
Ninguém nasce ensinado.
Se eu morria... queria ver!.


Este é um dos pequenos contos do livro

O TRÁGICO DA COMÉDIA
OU…
O CÓMICO DA TRAGÉDIA

De: Teresa Sousa Fernandes