Este Blog foi criado para todos que buscam a leveza e a beleza de ser.




quinta-feira, 20 de setembro de 2007

...pensamento alto

Por vezes desconfio das pessoas que vivem cheias de certezas. As certezas metem-me medo, são meio caminho andado para julgamentos precipitados. Possuo algumas certezas, pelo menos enquanto convicções, ideias que assim se me arrumaram na consciência. A certeza de que o meu corpo cairá, um dia, no mais profundo silêncio. A certeza de amar o meu filho, a vida, a poesia a musica. Tudo o resto, entre o qual algumas dessas certezas alheias, é, em mim, um oceano de dúvidas. Diria que aqui veio falecer, como se este texto fosse o areal de um pensamento. As dúvidas e a verdade, as certezas e o real, dormem na mesma cama dentro da minha cabeça. Por isso não acredito numa poesia meramente afixada ao real. Talvez não se trate de acreditar, mas tão somente confiar. Mas, mesmo assim, o que é o real? Uma dúvida. Como posso confiar num poema com pretensões de realidade? O real e a verdade são meros horizontes possíveis. Com Orfeu terá morrido o real. Mas que sei eu disto? Não existem verdades inexoráveis, existe o ar que respiramos, a terra que pisamos, os desejos que nos elevam à loucura, os sentimentos que nos transportam por translúcidos caminhos, os vagares, as necessidades, o mal que consome os homens na exacta proporção em que os preenche, a natureza revelando-se-nos como um estalo nos olhos... A natureza é metafísica. A natureza, esse cómodo lugar com o qual, e no qual, desaprendemos de viver. Naturalmente somos naufrágio e saturação... E neste voltar de pagina a certeza da incerteza.

Sem comentários: